Às vezes, mal se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor. O que pode um gesto aparentemente insignificante valer como força formadora ou como contribuição à do educando por si mesmo.
Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia
Acredito que devemos combater a alienação do trabalho, a idéia de que faço algo apenas para receber o meu salário. Acredito, de verdade, que esta é a armadilha da desumanização que o mercado impõe ao cotidiano no trabalhador.
Quero dizer que é possível o professor, como trabalhador, romper com esta alienação encarando o seu trabalho de uma forma diferente, como parte de uma construção maior.
Para ocorrer esta mudança, algumas estratégias de envolvimento com sua função podem ser tomadas. Uma delas, que é urgente, se trata da necessidade do professor se dispor a ouvir seus alunos.
Não gosto muito do filme Escritores da Liberdade, especialmente pelo fato daquela professora ser colocada como salvadora, ter que se submeter a outros dois empregos para poder atender aos alunos. Não, não gosto. Mas de lá tirei uma prática que acho interessante: o diálogo do aluno com a professora através da escrita.
A professora apenas conseguir dar aula após o seu exercício de escuta que se deu através dos diários.
Há diversas maneiras de exercitar a escuta. Por exemplo, costumo trabalhar conteúdos, passar as tarefas e tudo. Abro, quase sempre, rodas de conversa e é nesta hora que o aluno, amparado pelo professor, pode contar suas experiências ao refletir sobre o conteúdo de aula.
O tema da aula pode ser Revolução Francesa, Cabanagem, Império Romano ou qualquer outra coisa. Os alunos acham espaço para partilhar suas opiniões pessoais, histórias de vida e causos em consonância com o conteúdo.
Veja, não quero dizer que esta conversa é boa para que o aluno absorva o conteúdo aprendido. Quero dizer que isso modifica a maneira que o professor é visto pelo aluno, modifica a maneira como a sala irá se ver como comunidade, traz significado cotidiano escolar que em si é maçante e quase sempre sem sentido.
Professora Invertida